A primeira cesárea
Poucas pessoas podem se orgulhar de terem ajudado a trazer uma nova pessoa ao mundo. Meu amigo Henrique (Lecão) é um desses privilegiados. Esse é o relato emocionado da primeira cesárea feita por ele.
Rio, 06 de janeiro de 2002
Começamos o dia em pleno vapor, pois o plantão de domingo na Enfermaria 33, do Prof. Jorge de Rezende, estava bem agitado. O pré-parto estava com as quatro camas ocupadas, como há muito não se via. Tivemos ainda o nascimento de cinco crianças durante a noite, todas partos normais, via baixa, sendo um deles feito por mim.
Fui descansar apenas às 6am, exausto, pois já havia chegado à Santa Casa da Misericórdia (no dia anterior, às 8pm) bem cansado. Acordei então apenas às 11am, o que jamais havia também feito, pois geralmente às 9h já estamos de pé passando visita nas puéperas.
A visita começou então mais tarde e logo depois foi interrompida devido a uma internação por mim realizada. Por volta de 12h30 fui chamado por Dr.Daniel, pois mais uma criança estava pra nascer. Fiz então mais um parto, que, para minha surpresa, mais tarde viria a saber que o menino seria chamado de Henrique. Mais um presente estaria para receber, quando Dr.Daniel me disse para ficar preparado, pois caso houvesse uma cesárea, eu seria o cirurgião.
Por volta das 15h foi confirmada a cesárea e a ansiedade começou a aumentar. Às 16h estávamos dentro do centro cirúrgico. Fui o primeiro a me escovar, para ganhar o maior tempo possível e assim realizar uma caprichada assepsia. Foi então que, ao colocar o capote, escutei algo que deixou muito tranqüilo naquele momento. O próprio Dr.Daniel me amarrou e ao pé do meu ouvido disse: "Não fique nervoso em momento algum, pois estarei com você o tempo todo!" Isso me deu uma tranqüilidade muito grande, me fazendo sentir capaz de enfrentar qualquer situação. Jamais esquecerei suas palavras naquele momento.
Começamos então a cirurgia, e com o bisturi na mão realizei minha primeira incisão. A ansiedade, que era grande, foi diminuindo a medida que avançávamos pelos planos da cavidade. Com o atento auxílio, Dr. Daniel ia guiando e elogiando meus movimentos. Até, finalmente, atingirmos o útero. Uma última incisão foi realizada e pouco depois já podíamos visualizar o rostinho do neném. A dificuldade foi um pouco maior nesse momento, mas o chefe mais uma vez me ajudou e pude extrair a linda Mariana. Continuamos a cirurgia e os planos foram sendo reconstituídos. Já no subcutâneo, Dr.Daniel me deu um forte aperto de mão e me parabenizou, pois estaria deixando o campo cirúrgico para atender uma outra paciente que havia chegado. Finalizamos a cirurgia e fiquei ansioso a partir de então para chegar em casa e contar tudo para meus pais, que tanto torcem pelo meu sucesso.
A emoção foi grande quando cheguei em casa, pois meus pais ficaram tão felizes quanto eu. O mais incrível foi a pergunta feita por Dr.Guilherme três dias antes: "Você já se sente capaz de realizar um cesariana?" E mal sabíamos que a primeira cirurgia estava tão perto. Foi um momento muito especial, e como diz a dedicatória feita pelo grande mestre, meu pai, no livro em que me presenteou ano passado: “Esperamos que este seja o início do aprendizado de um futuro grande cirurgião”.
Henrique Castro van der Laars
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