terça-feira, novembro 30, 2004

Lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa

Quando em poucos meses nada menos do que seis pessoas surgem com o mesmo tipo de problema de saúde você começa a pensar: algo está acontecendo. Ou será que sempre esteve acontecendo, e só você não enxergava?

É difícil não encarar enfermidades e mesmo a sombra da morte como algo cruel. Por mais que tenhamos fé, cada um a seu modo. Nesses momentos vejo dois padrões (óbvios) de conseqüências: a fé da pessoa vítima e de sua família aumenta vertiginosamente (ou mesmo vem à tona pela primeira vez), e surge uma atitude de reflexão, de repensar a vida, uma reavaliação de prioridades, revisão de valores ou seja lá como se chama esse sentimento de que todo mundo está fazendo tudo errado.

A doença e o vislumbre da proximidade da nossa única certeza - a morte - são tristes por essência, em qualquer idade, em qualquer pessoa. Por mais que sua avó tenha 103 anos, você vai ficar abatido quando ela se for e vai desejar que ela tivesse vivido até os 104. Ou pelo menos mais um dia.
Mas nada muda o fato de que é muito cruel ver pessoas jovens e aparentemente saudáveis virem seu mundo virar de cabeça para baixo quando se deparam com o sofrimento, a dor, o medo de que aquele pesadelo não vá embora pela manhã, porque na verdade ele não é um pesadelo e o mundo é assim mesmo: num dia está tudo bem, no outro você pode quase morrer.

Não há nada mais humano do que a dor, e não há nada mais desumano do que a dor. E nesse paradoxo a gente vive, acreditando que nada vai acontecer assim tão perto, ou fingindo que a saúde imperfeita não está lá, à espreita.

Nesse exato momento há pelo menos três meninas que eu conheço, as três lindas, as três entre 26 e 28 anos, sofrendo por motivos mais ou menos parecidos: por medo, por antecipação, por dor, ou mesmo por esperança de voltar a ter uma saúde perfeita.

Por que será que "há tempos são os jovens que adoecem"? Será que eles (nós) sempre adoeceram e eu nunca percebi, por ser então jovem demais, por estar distante demais desse tipo de problema? Tento fugir da minha fobia de perda de saúde reafirmando que raramente fico gripada, que faço exercícios, não fumo e me alimento direito: sou "saudável", apesar de alguns desmaios por causa da pressão baixa. Mas os baques nessa falsa confiança não param de acontecer, assim como os inevitáveis balanços de vida, promessas de não odiar ninguém, de aproveitar cada momento, de fazer sempre a coisa certa e, acima de tudo, de aceitar o que quer que venha a ocorrer, tendo em mente que aceitar não significa se entregar.

Esses fatos, quanto mais próximos de nós, quanto mais inesperados, mais nos levam a querer mudar alguma coisa, mas é sempre difícil perceber exatamente o que deve ser mudado. A real mudança, afinal, só costuma acontecer quando perdemos o que, no dia anterior, parecia parte inequívoca da existência - a saúde. No fim, minha conclusão é sempre a mesma: tenhamos fé, e seja o que Deus quiser.

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