quinta-feira, dezembro 11, 2003

Quando eu morrer

Quando eu morrer quero que minhas gavetas estejam cheias de poemas. Quero que alguém publique meus textos guardados, porque tudo que é póstumo parece melhor. Meus escritos podem não ter qualidade, mas são meus, e quando eu morrer quero que isso baste.

Quando eu morrer quero que minha consciência esteja leve. Não quero estar com raiva de ninguém nem ter mágoas armazenadas. Quero voar daqui bem rápido, em paz, sem nenhuma culpa ancorando meus pés. Quero ser lembrada como a menina que dançou balé, jogou vôlei, adorava escrever, gostava de história, tinha bons amigos e tentava ser correta e pacífica. Às vezes acabava fazendo tudo errado, mas era apenas uma eterna menina, sempre aquela menina que queria dar certo no dia seguinte.

Quero um enterro simples. Quando eu morrer eu quero que chova, mas que girassóis sejam jogados no meu túmulo. Ou então que minhas cinzas sejam espalhadas pelo Arpoador, para que assistam o sol se pôr no Dois Irmãos enquanto conversam com as cinzas do Tom Jobim. Quero que meus amigos chorem, mas só um pouco, e que peguem minhas fotos e abram largos sorrisos ao lembrarem da grande boba que fui.
Quero que eles pensem numa música para mim, mas que não cheguem a conclusão alguma, já que eu mesma, a indecisa homenageada, jamais conseguiria escolher uma só.

Quando eu morrer, espero que tenha tido tempo suficiente para encher as minhas gavetas de poemas.

Não quero ter nenhuma roupa cara no armário e nem muito dinheiro na carteira. Quero que Deus me leve sem aviso prévio, assim de sopetão. Do jeito que for eu vou aceitar, não me resta opção...Mas, quando eu morrer, quero que meu caderno azul esteja repleto de tristezas e as memórias de meus amigos, de gargalhadas. Quando eu morrer não quero explicação de nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui. Com educação, por favor.