Missão Impossível
Sei que acabei de escrever sobre o quanto estou quebrada. Mas infelizmente a gente só acredita que é mulher quando está tudo no lugar, pelo menos dentro do possível. Do contrário, há uma conspiração para nos convencer de que somos seres acidentais, meras criaturas provenientes da costela de Adão.
Por esses dias eu disse que queria ser prega. Uma nerd bem prega, que usa calça santropeito, sapato nauru, tenta estudar Filosofia e descansa vendo Silvio Santos no domingo. Mas esse projeto me cansou só de pensar. Ia dar muito trabalho achar um nauru hoje em dia.
Pelo menos percebi que também não quero ser pop, nem ploc, nem roquenrou, nem cool, cult, paty ou qualquer outra denominação fundamentalista. Tenho um projeto mais simples (ou não): quero ser gente boa, inteligente e gata. Só.
Gente boa: eu me esforço. Às vezes é muito difícil, mas juro que tento. Ontem, por exemplo, saquei que o cara mais chatinho do universo decorou meu nome e resolveu pedir ajuda para TODOS os trabalhos, mesmo o mais desnecessário. Ele perceptivelmente tem algum problema, e acaba gerando um misto de pena e repulsa nas pessoas. É horrível sentir pena de alguém, mas não tem jeito. Ele gruda no pé e, apesar de ser inteligente, é ansioso e inseguro - daqueles que saem do primeiro dia de aula do primeiro período da faculdade já desesperados com a monografia. Pois ele me elegeu para ajudá-lo com um trabalho que eu nem sei ainda como vou fazer. Contei até 10 e tive paciência para falar com ele, na terceira semana seguida de perseguição. Mas acabei deixando o lado Madre Teresa para lá quando a segunda fumaceira de cigarro dele entrou nos meus olhos. Ninguém é perfeito.
Inteligente: acho que faço parte daquele grupo intermediário: não sou nem burrinha ou abaixo da média, nem superdotada ou superculta. Gosto de falar de tudo, mas não entendo profundamente sobre nada: sou uma típica e incipiente generalista. Em conversas com algumas poucas pessoas não consigo fazer entender o que quero dizer, porque elas não compreendem; com muitas outras, o que digo lhes parece tão elementar que é melhor eu calar a boca. Estou na coluna do meio, às vezes mais pra lá, às vezes mais pra cá, dependendo do contexto. Não consigo pensar em um só assunto que domine. Até manjo falar superficialmente sobre vários temas, mas nunca elaborei uma obra-prima ou uma teoria bombástica. Não sou nem medíocre, nem essencialmente original.
Gata: vou voltar a malhar. Dia desses olhei-me no espelho e decidi: não dá mais. Não dá mais para ter preguiça, para economizar na academia, para não ter tempo ou achar suficiente fechar a boca – até porque eu raramente fecho. Se estou magra, minhas pernas ficam finas e os braços quilométricos; se engordo, ultrapasso a Carla Perez em seus áureos tempos. Espero em médio prazo voltar a puxar 180kg em vez de setentinha com as pernocas que um dia já foram saradérrimas, pré-cirurgia. Não quero virar pudim e muito menos mousse. Também já marquei salão: pé, mão, depilação. Comprei um Casting e vou pintar minhas fenomenais madeixas. E quero uma sandália laranja nova. De plástico.
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