Não li e não gostei (ou onze minutos para malhar um charlatão)
Sei que tem muita gente que gosta desse cara, e esses que me perdoem. Mas ninguém precisa ver Paulo Coelho dando uma explicação sexual para o arco-e-flecha em um texto acompanhado por uma foto dele com suas “flechas fálicas” (na Veja de 02/04) . Em seu nono romance (realmente posso dizer que não gosto, pois já li três livros dele), Onze Minutos - que chegou ontem às livrarias -, o novato da ABL resolveu escrever sobre sexo.
“Vi seu orgasmo chegando, e seus braços seguraram nos meus com força. Os movimentos aumentaram de intensidade, e foi então que ele gritou – não gemeu, não mordeu os dentes, mas berrou, urrou como um animal!” Das duas uma: ou o repórter que selecionou esse trecho queria sacanear o mestre dos magos ou realmente esse é um dos melhores trechos da obra e merecia citação. Horrível.
Mas o que tem o título a ver com sexo? Acertou: inspirando-se num romance do final dos anos 60, Os Sete Minutos, Mr. Paul Rabbit usou seus superpoderes para fazer uma conta mágica que o levou à conclusão de que 11 minutos são o tempo necessário para levar uma mulher ao êxtase. Vamos então à ficção rabbitiana: mulher nordestina chamada Maria vem ao Rio, aceita emprego de dançarina de boate em Genebra e torna-se prostituta de luxo. Mas eis que surge na vida de Maria um famoso artista plástico que tem em comum com a moça as decepções com o sexo. Eles se apaixonam. Diz Maria, em outro trecho brilhante selecionado pelo repórter: “Quem descobre a pessoa com quem sempre sonhou, sabe que a energia sexual acontece antes do próprio sexo. O maior prazer não é o sexo, é a paixão com que ele é praticado.” Uau!
E então o astuto repórter dá mais uma dica do que verdadeiramente achou do livro: “Curiosamente, a tal Maria, apesar de semiletrada, gasta suas tardes numa biblioteca lendo obras sobre psicologia, filosofia e sexo (...)”. Vai ver alguma força cósmico-alquímica suíça ensinou a pobre Maria a ler - ainda por cima filosofia.
Em uma entrevista no pé da página da revista, Mr. Rabbit the Majestic conta que, em sua fase maluco beleza, tentou participar de uma festa sadomasoquista e durante sete anos fez parte de uma “comunidade internacional de ocultismo que buscava o sagrado por meio do sexo”. Participou de orgias com oito parceiros, mas parou “ao perceber que alguns só iam aos rituais para satisfazer desejos reprimidos”. Afinal, o que ele queria mesmo era só alcançar o sagrado.
No final das contas, o mago charlatão da auto-ajuda mudou muito nos últimos 20 anos, e no livro defende a idéia de que sexo só vale a pena com amor. Ah, bom.
Sei não, mas não vejo muita diferença entre esse cara e o tal do Rael. Justiça seja feita, porém: pelo menos o felicitólogo esotérico ajudou Raul Seixas a compor Gita.
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