quarta-feira, fevereiro 05, 2003

Fim de semana

Mais um fim de semana passou e eu só tomei uma decisão: quero ir a Macchu Picchu. E quero também girassóis pro meu quarto. Além disso, o rapel foi acrescentado à minha lista das 50 Coisas que Quero Fazer Antes de Morrer.
Também adicionei mais um lugar à minha visão do Paraíso. Chama-se Cachoeira da Capivara, na Serra do Cipó. Cenário Lord of the Rings. A água jorra de pedras que roçam em nuvens, e cai, branca, com força descomunal em outras pedras aparentemente moldadas pela própria água. Uma delas era a miniatura da Pedra da Gávea...De repente a água fica negra, funda, medonha, e bate em fronteiras inacreditáveis, paredes de rochas com plantas entranhadas. Nadei até o lado da queda d’água, deitei e olhei para cima. Gotículas formavam um arco-íris em cima da minha cabeça. Nessas horas tenho ainda mais certeza de que Deus existe.
Os roxos na canela e joelho e a topada no dedão, assim como a trilha por vezes tortuosa, valeram a pena. Um bando de loucos emaconhados fazendo rapel também. Até mesmo ver os últimos goles de uma água já quente serem babados por um gringo sedento e maravilhado valeu a pena. O rombo na calça, embaraçoso na subida das pedras: valeu a pena.
Valeu ver que não estou tão fora de forma assim e que realmente topo quase qualquer coisa. Fui a única das mulheres a nadar na água fria até as quedas d’água, subir uma delas e tomar uma forte ducha natural. Subi pedras e vi uma das paisagens mais lindas que já presenciei: a cachoeira enorme, vista de cima, na beira da queda, com uma gigantesca piscina cercada de paredões e mato, e o céu azul por cima. Incrível.
Na volta, consegui até subir correndo uma parte da trilha. Sentir o sangue correndo quente, o coração batendo rápido e o espírito em paz: poucas coisas na vida são comparáveis a essa sensação.
Passando pelos campos verdes pontilhados de flores amarelas, pela primeira vez a frase shakespeariana “meu reino por um cavalo” fez sentido para mim. Queria muito sair cavalgando por aquele lugar, sem rumo, sentir o vento, amazona urbana fora da selva de pedra. Mas andar também tem seu valor, devagar se repara nos detalhes. Na cachoeira do dia anterior, em Casa Branca, contei sete borboletas azuis (duas daquelas azulonas mais berrantes que a maquiagem da Elke Maravilha) e quatro amarelas pequenas. As borboletas me entristeceram um pouco, mas eram apaixonantes. Depois dessa beleza toda, ainda visitei um templo budista.
Momentos de paz em meio à turbulência.
Um fim de semana passou e tomei uma decisão: quero conhecer Macchu Picchu. E quero também girassóis para o meu quarto.

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