Eu no Mundo Encantado de Titio Roberto
Hoje foi o encerramento de uma maratona de dez dias de palestras e passeios da Stella Barros (antes da falência) pelo Mundo Encantado da TV Globo. Teve “ambientação corporativa” e passeio de mão dada em fila indiana pelos estúdios e cidades cenográficas do Projac. Teve bebidinhas, casadinho de doce de leite e folheado de queijo que deram inveja até aos palestrantes. Teve sono. Teve saco cheio e sentimento de ridículo. Teve muito saco cheio. E teve um mínimo de, se é que posso chamar assim, aprendizado.
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Hoje por exemplo, no último dia, fiquei sabendo que o William Bonner, além de ser muito simpático, bonito, inteligente, marido da Fátima e pai de trigêmeos, não é jornalista. É publicitário. Pode ser que todo mundo saiba, mas para mim foi uma grande surpresa. Mais uma pancada no diploma. E fiquei feliz (e um pouco triste também, pois não sei se conseguirei concretizar minha vontade) quando ele disse que melhor seria se quem quisesse ser jornalista fizesse História (preferencialmente, mas outros cursos de Humanas também servem), já que depois aprenderia jornalismo em uns 6 meses. Sempre pensei mais ou menos assim.
Confirmei também outro princípio: só pergunte quando realmente tiver dúvida, quando a pergunta for pertinente. Teve muito estagiário fazendo pergunta a torto e a direito nitidamente só para fazer perguntas e parecer curioso, interessado, “um jornalista nato”...Odeio isso. É presunção, pedantismo...Simplesmente desnecessário.
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Aprendi que tenho que controlar meus ímpetos de bocejo. Porque até pra bocejar eu sou tapada: só percebo que estou bocejando quando o ato já está consumado. Ou seja, estou lá, com o maior bocão aberto na frente do palestrante, e só aí me dou conta e pateticamente levo a mão à boca para tapá-la, como se adiantasse. Fui mal-educada sem perceber. Imperdoável.
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Mas no total até que foi legal. Ganhamos bloquinho da GloboMarcas (que a Brenda herdou e a essa altura já deve ter perdido), canetinhas e chiclete azul da novela O Beijo do Vampiro!!! Hip Hip Hurra.
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E decidi que nunca mais quero ouvir falar no Tony Ramos. Além de apresentar e narrar todos os vídeos institucionais insuportáveis a que assistimos, ele é sempre o exemplo de ator da Globo de todos os palestrantes. Ainda por cima, cruzamos com ele em um intervalo. O cara está em todas - e pode ser tudo na vida, com todo o respeito, menos galã.
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Aprendi ainda (ou apenas ratifiquei) que não sei escrever para a TV. Na verdade, não sei se sei escrever pra coisa alguma, só para o blog do qual sou editora, porque aí tanto faz mesmo. Mas, infelizmente, isso não me basta. Porque escrever é o que mais amo fazer na vida. Escrever e também viajar, conhecer lugares...pena que para 99,99999% das pessoas nada disso enche barriga. E como estou começando um estágio na televisão, onde nunca imaginei, nunca planejei, e de que nunca gostei muito – talvez por puro preconceito -, acho bom eu aprender rapidinho. Ou então passar na dinâmica do jornal O Globo que vou fazer segunda-feira. We’ll see.
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A verdade é que estou tensa. Amanhã começo no Conta Corrente. Se já não tenho experiência com TV, junte-se a isso o fato de ser um jornal especializado em economia. A ignorância aflorará, impiedosa. Putz, quem me conhece sabe que odeio me sentir ignorante. Mas vai ser bom começar logo na porrada, levando fora e olhares de “tadinha” pela cara. Mas tudo bem: quero chegar ao final da vida e dizer de boca cheia: já levei muita porrada e já paguei muito mico. Graças a Deus.
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A propósito, meu best friend Fernando Pessoa manda um recado:
Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
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