quinta-feira, janeiro 23, 2003

O simbolismo de um beijo

Beijar é fabuloso; quem negar é no mínimo insano.
Mas beijar é, mais que uma obra de prazer, uma construção cultural magnífica, um ato simbólico. Prostitutas não beijam...
O beijo é a prova de que o tempo pára. Beijo é comunicação sem palavras. É mitologia tangível. O beijo distrai, navega, recria um big bang sem saber se nascerá um universo. O beijo é um jogo feito para empatar. Para calar com umidade a boca que tenta impressionar com palavras secas. Beijar tem que ser dialogar – com opulência, suavidade ou veemência, mas sempre dialogar. O beijo é uma unanimidade inteligente. Beijar é mordiscar nuvens, é sorrir com a alma, é sugar energia de estrelas. Beijar é sanar a indolência da língua, é tirar os nervos da inércia, é curar a ressaca da insuficiência de paixão.
Um beijo na hora de ir embora muda tudo.
Abre ou fecha portas, transforma perspectivas.
O que há alguns instantes parecia perdido – a esperança ou o próprio amor -, agora, com o beijo final, é resgatado.
Beijo daqueles estonteantes, de virar o estômago e arrepiar a nuca: esqueça o que eu disse e vamos nos amar.
Bocas entreabertas, lábios úmidos, mas beijo ainda tímido: vá lá, me ligue amanhã que ainda há o que beijar.
Beijo curto, mais que estalinho, bocas querendo abrir, concluído antes da hora: nada é certo, nada é simples, muito menos te esquecer. Nos esbarramos pelos corredores...E finaliza com um beijo na testa – o mais simbólico, o mais pensado: carinhoso e assexuado.