O extermínio do prefixo "ex"
Fidelidades, infidelidades, perdão, amor, amizade....Certo dia, depois de assistir “Separações”, a musa carioca Brenda Mariano resolveu escrever uma carta reveladora. Enjoy.
Resolvi escrever uma carta. Uma carta, é, uma carta. Acho que uma carta. Ou talvez um pensamento apenas, ou talvez quem sabe, um testamento. Na verdade, já queria escrever essa carta antes mesmo de ir ao cinema. Mas antes de ir ao cinema, eu fui a praia. Com a minha ex-cunhada, meu ex-cunhado, meus ex-sobrinhos e minha amiga com o namorado. Depois eu continuei querendo escrever uma carta, mas resolvi tocar violão e achar um final para a minha música nova. Tentei Vinícius de Morais e li alguns sonetos para me inspirar... Mas o tribalismo não me sai da cabeça e só o que consegui pensar foi “sonhar acordada”, de madrugada você e eu”, “ir sem medo da estrada”, Blargh! Não terminei a música e nem escrevi a carta. Aliás, antes de entrar no cinema não pude pensar na carta porque estava no telefone com o meu pseudonamorado. Pseudo? Bom, se eu escrevi pseudo, é porque assim é. Onde eu estava mesmo? Ah, no cinema... Enfim, entrei no cinema para assistir o filme. Que filme? Ah, um filme aí... Sem expectativas, sem ambições, sem lembranças, sem esperanças, sem pipoca... nada. Só entrei no cinema para assistir um filme...
Um filme...Que filme!
Na terceira fila da sala de cinema, comecei a pensar em tudo e em todos que existiam ao meu redor. Tudo se encaixava perfeitamente. Amigos, amores, ex-casos, ex-amigos, novos amores... Acabei de me lembrar de um ex-amigo que num ex-reveillon disse:
– “O mundo dá voltas e pára aqui, em Geribá”. E não é que depois de anos o reencontrei em Geribá? Ah, tá bom, o filme....
Sabe aqueles filmes que você sai do cinema querendo voltar correndo para assistir tudo de novo? Sabe aqueles filmes que dá vontade de ter um caderninho de anotações e escrever algumas falas para poder se lembrar depois? Sabe aqueles filmes que você não precisa de um caderninho, porque você não consegue esquecer as falas, não consegue se separar dele?
Separações...
Minha primeira maior vontade foi mandar o filme pelo correio para o meu ex, meu primeiro ex-namorado com um bilhete assim:
Quem amou um dia tem que virar amigo, porque se o amor não for amigo, a vida fica muito cruel...
E colocaria mais. Assinaria assim:
-Assista, viva, e foda!
Minha amiga falou que eu deveria colocar assista, viva, e não me ligue nunca mais.
Não. Quero terminar minhas relações em uma mesa de um bar falando sobre a terra a água e o mar... Eduardo e Mônica, Romeu e Julieta, a Dama e o Vagabundo, Clark Kent e Louis Lane, Julia Roberts e Richard Gere, Julia Roberts e Hugh Grant, (inclua nessa lista todos os filmes que ela fizer o papel da mocinha ou da melhor amiga), Glorinha e Cabral...
Ah Cabral... Como foi bom te assistir! Concordo com ele em quase todas as expressões, falas, gestos, bebedeiras, flores, micos (por que não micos)... Até a cor da parede combinou com a mesa da casa com uma charmosa varandinha... Gostei de tudo! Me vi em tudo! Amar tão intensamente e entender a tal INFIDELIDADE. Entender a infidelidade é a forma mais verdadeira de amar e de ser fiel.
Para mim, fidelidade é ter valores. Infidelidade é faltar com a verdade na hora mais difícil de a pronunciar. A quem ache que traição é um sinônimo de infidelidade...
Ponto número A:
Se resistirmos aos nossos desejos e paixões, não estaremos sendo infiéis com a nossa vontade, não estarei sendo infiel comigo mesmo?
Ponto número B: na vida você tem duas opções: se trair e/ou trair. Bom, então são três.
Ao meu entender (o que não quer dizer absolutamente nada) traição é a falta de coragem para dizer a verdade. Por isso, meu ex-namorado não perguntava o que ele queria saber. Sabe porque? Porque ele saberia que eu diria. Pior, saberia que não agüentaria, me largaria, se separaria... Eu sempre perguntei porque suportaria, entenderia e aceitaria. Qual virtude é maior do que a coragem? Talvez o perdão. Eu perdoaria. Eu perdoei, e perdoaria de novo. E gostaria que fôssemos amigos. Cabral perdoou. Aceitou e continuou amando, sem máscaras, sem pudor, sem mentiras, sem mistério. Se despiu de qualquer orgulho, de qualquer fórmula, de qualquer conselho e apenas amou. E sofreu. Quem não sofre quando ama? Se não sofre, não ama.
Mas sabe porque eu gostei tanto do filme? Percebi que a palavra (palavra?) EX foi exterminada! SIM! Cabral me fez o grande favor de acabar com os ex-namorados, ex-amigos, ex-cunhados... Cabral, Cabral, que descoberta incrível! É claro! Tão simples, e eu procurando uma frase tola para uma música mais tola ainda. Tola, mas ainda sim, uma toada de um diário em forma de viola...
Então: nenhum amor é ex. Se é ex, é porque não foi amor, ou porque ainda não acabou, ou porque não resolveu entender que amou, passou, mas não esqueceu... Claro! Porque esquecer de alguém que se amou? Porque dói? Não me venha com essa. Toda dor passa. E quando passa, fica a cicatriz para lembrar e não deixar esquecer. Quem esquece não tem passado. Quem não tem passado, não tem história para contar. Quem não tem história para contar, é triste...
Claro Cabral! Quem foi ex, vira amigo. Quem é amigo é presente. E quem é presente, é guardado para o futuro! Entendi.
Hoje, eu saí do cinema e escrevi uma carta. Escrevi uma carta logo depois que saí do cinema. Na verdade, já queria escrever essa carta antes mesmo de ir ao cinema. Mas antes de ir ao cinema, eu fui à praia com meus amigos. Presentes amigos. E depois da praia falei com o meu pseudonamorado. Pseudo? Bom, se eu escrevi pseudo, é porque assim é...
Onde eu estava mesmo?
elucubrado por Brenda Mariano, a musa de Antônio Pedro e Eduardo Pedro, os quais, desconfio, são a mesma pessoa