quarta-feira, janeiro 08, 2003

Bush, Saddam e Yemanjá

Eu acho que eu sou uma pessoa muito chata. Porque qualquer um que se esforce pra ser legal no fundo é um chato de galocha. Hoje eu percebi o quanto eu sou pentelha às vezes – muitas vezes -, e peço perdão aos meus amigos passados, presentes e futuros. Eu juro que me esforço, tento ser legal, mas se pegar nos meus calinhos eu faço como aquele cara do Edifício Master: passo de Piaget pra Pinochet.
Ontem consegui discutir fervorosamente em Ipanema contra a idéia de que o Lula não pode ser um bom presidente porque não fez faculdade. Espero inclusive que você que está lendo isso concorde que essa afirmação é no mínimo estapafúrdia, senão na próxima vez que eu te encontrar pode ser nos jardins do Éden que a gente vai discutir e eu vou mostrar como sou chata. Mas ontem pelo menos a praia estava imunda, e como eu não sou chegada a uma coprofagia, nem mergulhei no cocô da Vieira Souto e sobrou tempo pra discussões inúteis. Hoje não: na Praia de Grumari, cenário paradisíaco, vazio, mar e montanha frente a frente com areia branca no meio, e eu realizei a façanha de discutir sobre guerra, Bush, a imbecilidade norte-americana, Iraque, Palestina, árabes, Al-qaeda e o raio que nos parta. Fala sério, só depois de muito tempo fui me tocar de como sou otária. A vida cor-de-rosa com cheiro de mar limpinho, queijo coalho, mate gelado, frescobol, paz total, e eu, que não ajudo ninguém, não salvo ninguém nem da guerra civil carioca, não sou P.N. e nunca pisei no Afeganistão, quebrando o pau sobre guerra com outras duas loucas patuscas como eu (com todo o respeito às minhas amigas, que são beeem menos chatas do que eu).
Tudo bem que a Tati Quebra-barraco e a Brenda American Way of Life ajudaram e muito, mas se me lembro bem fui euzinha quem começou a joselitice toda. Bem-feito: Yemanjá não nos agüentava mais e resolveu agir. Depois de três horas sentada como um buda ditoso debaixo da barraca, eu resolvi ir à água. Foi só sair e Yemanjá, Poseidon e suas sereias mandaram uma onda tsunami invadir nossa praia e carregar chinelo, cangas, fita de vídeo, roupas, bolsas arreganhadas, CDs, celulares e outras coisinhas supernecessárias para a nossa sobrevivência. A pesquisa sobre Isabel de Castela da Brenda virou paçoca, Clarice Lispector, Van Gogh, Jostein Gaarder e O Globo se afogaram, meus CDs voltaram pra casa salgados e cheios de areia - assim como minha agenda com os míseros contatos que um dia tive -, meu rádio do carro deu piripaque e meu celular virou lenda. Entrou água até no visor, eu tento ligar e ele treme, agoniza e faz barulho de rádio AM. Portanto não liguem pro meu celular, quem quer que leia essa dejeção mental. Até porque eu sou uma pessoa muito chata e vocês não vão querer falar comigo.

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