Faço minhas as palavras deste produtivo colaborador. É de vozes dissonantes que surgem as opiniões mais sensatas.
O tapinha que dói
Um estudo da Organização dos Estados Americanos sobre o uso de drogas no continente revelou números do consumo de álcool, maconha e cocaína no Brasil. O resultado por região não me surpreendeu e só vem a reforçar uma tese que é compartilhada, entre outros, pelo ex-chefe de Polícia e deputado estadual Hélio Luz e pela editora-chefe deste blog. As classes média e alta - ou pelo menos as regiões mais "desenvolvidas" - é que sustentam o tráfico.
No caso do álcool, que é lícito, o Sudeste lidera as estatísticas. No caso da maconha e da cocaína, ilícitas, é o Sul quem mais consome. A droga vai onde está o dinheiro. E se alguém está comprando, a droga é um negócio lucrativo. Assim, cariocas, paulistas, mineiros, capixabas, paranaenses, catarinenses e gaúchos têm o direito de reclamar da crescente violência nos grandes centros destas cidades? É fácil sentir-se relaxado depois de um "baseado" e puto da vida depois de um assalto sem fazer o menor esforço para traçar um paralelo entre os dois fatos. Quantos assaltos são praticados por causa da droga?
É uma discussão complexa. Muitos defendem a liberalização da maconha como forma de diminuir a violência. Citam o exemplo da Holanda. Mas o Brasil não é Holanda. Aqui só temos a Nova Holanda, aquela favela em Bonsucesso sempre em guerra com a Vila do João e a Vila dos Pinheiros pelo controle do tráfico no Complexo da Maré.
Eu gostaria que a nossa sociedade discutisse sem preconceitos esta questão. Ainda é difícil. Acho que acabar com a miséria é mais importante do que saber se o filhinho de papai vai ser autuado ou liberado se pego com cinco gramas de maconha para consumo próprio.
Sei que sou uma voz dissonante da maioria dos meus amigos mas continuo achando que o cara que compra maconha ou cocaína ou ecstasy ou sejá-lá-o-que-for está, sim, colaborando com o crime organizado. Cada um deve ter sua idéia própria sobre a forma de como ser cidadão e colaborar, com um pouquinho que seja, para melhorar nosso país. Não faço muito, é verdade. Mas o que faço, faço convicto.
Essa semana discutíamos o caso do Giba e alguns amigos diziam que era ridícula a punição por causa de maconha. Diziam que a maconha não traz benefícios esportivos e que aquilo não é doping. Concordo. Não é doping. Mas deve ser punido de alguma forma. Ele é ídolo, formador de opinião, espelho para a juventude e...vacilou. Merece outras chances, merece respeito, merece ser ouvido e se defender. Mas, vacilou. Fui chamado de romântico por acreditar que o esporte deve continuar combatendo o doping. Então, tá. Melhor ser romântico que descrente. Se um dia eu achar que comprando drogas eu não colaboro em nada com a bandidagem; se um dia eu achar que o doping deve ser liberado porque todo mundo se dopa mesmo; se um dia eu abrir mão desse "romantismo" de achar que, mesmo imperfeitas, as leis devem ser cumpridas...talvez este dia o mundo ganhe mais um desiludido e perca mais um cidadão em potencial.
elucubrado por Carlos Gil