sábado, março 13, 2004

Sábado de sol
O que se pode pensar num sábado ensolarado no Rio de Janeiro, às 7h da manhã, quando se tem que trabalhar sem receber por isso? Eu havia prometido a mim mesma que não ia mais ficar reclamando da vida. Meu Deus, 200 pessoas morrem num atentado terrorista, tantos milhões não têm o que comer, milhões de outros penam com terríveis problemas de saúde, e eu aqui, com tudo funcionando, família, emprego, saúde e doses básicas de inteligência e fé...Vou reclamar de quê? Por isso, fico tentando me convencer de que está tudo muito bom, tudo muito bem. Que qualquer vestígio de desânimo é fruto do meu recorrente excesso de umbiguismo. Que, como naquela música (meio irritante), "o melhor lugar do mundo é aqui e agora".
Às vezes é difícil. Principalmente quando insisto em usar todos os tempos verbais que aprendi no colégio. Olho para o passado e me vejo em San Diego, feliz e contente. Ou aqui no Rio mesmo, jogando vôlei, sem preocupações de dinheiro, chefe, estresse. Ou em Belo Horizonte, me apaixonando pelo homem da minha vida. Olho para o futuro e a vida me parece cintilante, cheia promessas e muito, muito tranqüila. Com a peneira do tempo, os problemas das águas passadas evaporam e os das águas por vir permanecem condensados. Então tento reacender minha porção Polyanna, que de vez em quando se resguarda. Verto os olhos para as desgraças do mundo, do país, do Rio, e concluo: sou uma privilegiada.
Mas aí basta me mandarem passar três horas sentada num casulo gelado ouvindo "Bom dia governadora" e "Encontro marcado com o Garotinho" para eu rever meus conceitos e me autodecretar a alma mais infeliz deste sábado de sol.

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