quinta-feira, fevereiro 26, 2004

E=mc²

Sempre gostei das aulas de física. Apesar de não ser nenhum gênio no assunto, achava as leis de Newton o maior barato. Mesmo concordando com meu mitológico professor de matemática, Fabiano, que implicava com o de física, Haroldo (dois coroas gente boa e amigos de destilados e leveduras), dizendo que não se podia levar a sério uma disciplina que oferecia problemas como "um elefante desce a ladeira a 20 km/h. Ignore o atrito e calcule...": mesmo assim eu gostava de física. Achava o Einstein um cara fantástico, um maluco que, como a maioria dos verdadeiramente malucos, deu certo. Isso não quer dizer que eu entendesse a fundo a teoria da relatividade, claro - o que não me impedia de guardar como um troféu aquela foto clássica dele com a língua para fora.

Mas as aulas de redação, história e português/literatura eram o meu delírio. Era mais interessante arquitetar as coisas, romancear o mundo, reinventar os acontecimentos históricos e saber o que outros antes haviam interpretado ou escrito, do que entender as coisas o mais próximo possível do "como elas são". Números são mágicos - trigonometria era uma verdadeira viagem -, mas melhores ainda são as palavras. O tempo voava nas aulas de história, literatura, sociologia, geografia política. E se arrastava na química, com suas intermináveis cadeias de carbonos, benzenos e metil-propil-o-raio-que-los-partam. Essa era, para mim, a maior prova da teoria da relatividade.

Mas hoje fiquei sabendo que o tempo, esse algo infindável, quase incomensurável, pode ser quebrado em micro-unidades menores do que eu jamais conseguiria imaginar. O menor intervalo de tempo do mundo, revela-nos o Sr. Ferenc Krausz, é de 100 atossegundos, o equivalente a dez milhões de bilionésimos de segundo.

Os caras austríacos que descobriram isso usaram emissões de raios laser para observar um elétron movimentando-se dentro de um átomo, e distinguiram eventos ocorridos em intervalos de 100 atossegundos. Segundo Krausz, para entender o que essa ínfima parcela de tempo representa seria preciso esticar 100 atossegundos até que eles durassem um segundo (numa escala similar, um segundo duraria cerca de 300 milhões de anos). Um elétron (o negativo, lembra?!), segundo o estudo, leva 150 atossegundos para orbitar um próton (o positivo..) no centro de um átomo de hidrogênio. Meu Deus, dá para uma lagartixa piscar o olho nesse tempo?

Se soubesse antes que isso é quanto dura o menor instante possível, teria aproveitado cada medida de 100 atossegundos que passei nas aulas de química e física estudando história, jogando vôlei na praia, beijando na boca, aprendendo a tocar violão e, principalmente, lendo livros. Afinal, é mais fácil e divertido levar a sério as epopéias de Danton, Tiradentes, Ulisses e Mr. Frodo do que a de um elefante que desce a ladeira sem causar atrito.

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