quinta-feira, janeiro 08, 2004

O primeiro dia da primeira semana do possível resto da minha vida

É sempre assim: eu não sei onde colocar as mãos, me sinto uns dois metros e meio mais alta, todas as minhas mais recônditas incompetências afloram e me torno uma atolada em potencial. O mundo inteiro me olha nos olhos e percebe que estou tre-men-do por dentro.
Podem me dizer que está tudo tranqüilo, todo mundo é gente fina, com o tempo a gente se adapta etc e tal. Eu sei disso tudo, mas ainda assim o primeiro dia de qualquer coisa é teeeeeeennnso. Logo eu, que alardeio pelos quatro cantos que adoro mudanças e novidades, que todo mundo deve mudar de estado e país pelo menos uma vez na vida, nessas horas eu me descubro uma borrona caxias, com medo de fazer perguntas imbecis e todos descobrirem que eu não nasci para fazer aquilo que escolhi fazer. Logo eu, a destemida, sou a mais tensa dos quatro neófitos no primeiro dia.

Como já me conheço há 25 anos, nessas situações eu costumo planejar tudo, tudinho mesmo, para não correr riscos. (Chegar atrasada, por exemplo, nem pensar. Às vezes o universo conspira contra o meu despertador, é verdade - o que não aconteceu desta vez, pelo menos.) Então de manhã eu ponho o CD bombação, um roquenrou para me animar e melhorar a cara de tonta que fico quando estou perdida. Na volta para casa, um CD relax, para acalmar os nervos.
Mas o problema é o durante. Porque eu detesto não ter o controle da situação. Detesto não saber como as coisas funcionam, quem sabe o quê, quem decide, que horas isso, quem resolve, que horas aquilo, quem responde. Sabe aquelas coisas de primeiro dia no primeiro emprego, quando você não sabe nem como atender o telefone da empresa? Pois todo emprego para mim é o primeiro. Os anos passam, eu fico velha, mas a tensão do primeiro dia permanece.

O pior de tudo é quando não te dão NADA para fazer. Você acorda cedo, se arruma, se perfuma, come mamão com aveia, lê o jornal, e na hora H neguinho deixa bem claro que não tinha a menor idéia de que você começaria a trabalhar naquele dia. E, óbvio, neguinho esqueceu seu nome.

Humilhação nº 1: "Oi Fernanda", e você responde "É Renata..."
Humilhação nº 2: "É....Hummm...Volte daqui a meia hora que o rapaz do treinamento deve estar chegando."
Humilhação nº 3: (uma hora depois) "Porque vocês não vão almoçar e depois a gente conversa? Estou muito ocupada agora..."
Humilhação nº 4: "É....Hummm...Ainda não sabemos onde vocês vão ficar....Tenho uma reunião e depois a gente conversa, tá?"

E, nesse ritmo, eu e meu parceiro (ele, no entanto, bem menos desconfortável que eu na posição de palhaço) passeamos pelo local das 9h até as 16h, quando, de súbito, tudo estava resolvido, e missões trabalhosas nos foram finalmente designadas.

No final do primeiro dia, eu sempre me pergunto se é isso mesmo o que vou fazer para o resto da vida. Foi mais ou menos assim no primeiro treino com ícones do vôlei, no primeiro treino numa seleção, no primeiro emprego na Unibanco Seguros, no primeiro dia de iG, nos primeiros estágios naquela TV cachorra e no jornal, e foi assim hoje.
A resposta é sempre a mesma: não sei. Não tenho a menor idéia se daqui a um tempo serei uma dona de casa feliz com meus cinco pimpolhos, se serei uma jornalista e aprendiz de escritora, se venderei roupas numa loja de shopping ou se darei aulas de História para crianças pobres na rede municipal. Porque tudo o que quero é uma rotina tranqüila, mas quando a consigo, tudo o que quero é um primeiro dia em algo diferente.
05/01

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