Tá tarde e dormir não adianta
E esse vento na minha cabeça que não pára de pensar em tudo o que tenho que fazer nas próximas três semanas e nos próximos trinta anos e essa tela branca na minha frente que insiste em permanecer assim branca e sem sal e sem sentido e essa mente que não quer produzir nada de útil e todos esses textos de pedaços de livros que nunca lerei por inteiro e que ficam na minha cama e me azucrinam e pulam das pastas transparentes e todos os CDs e livros que pedem para ser organizados mas não sei como nem que horas e essas roupas que pretendem vestir quem as queira usar e as três caixas de e-mail pedindo atenção e poucos amigos gritando por umas palavras via web e o bêbado jogando pedrinhas na minha janela e os gatos brigando na pracinha e o futebol de amanhã me atormentando e eu aqui querendo apertar no fast forward to a couple of months later quando tudo estará em seus devidos lugares ou então as dúvidas antigas serão piadas substituídas por novas dúvidas mais contundentes mas enquanto isso não acontece eu fico aqui com minha motivação em conta-gotas virando pastiche de mim mesma esse ser anódino mulher-flamboyant numa mixórdia de vida sem relíquias e pensamentos gaguejantes obrigando a si mesma a formular objetivos compatíveis com uma vidinha qualquer de uma pessoa comum nem moderninha nem nada além de alguém que joga sinuca com bolas brancas e evoca escritores como xamãs e delimita fronteiras de diálogo segundo a moral e os bons costumes de uma mocinha chata e boazinha perversa e discreta gracinha e ácida que vive numa modorrenta prisão feliz e não se sobressalta nem com suas indiferenças cruéis e estúpidas palavras sobre palavras que começam num sem-noção de dar dó e sem pretensão de obra-prima porque nada procede mas assim no caos é que sei quem sou. E o pior é que a vida anda boa e sem graça.
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