sábado, novembro 01, 2003

Dear diary,

Hoje, depois de um período de bonança, bateu uma dorzinha verdadeira de imaginar que as coisas vão mudar, e talvez muito, daqui a uns meros 60 dias. Minha vida é feita de fases - em grande medida involuntárias - de convivência com grupos de pessoas efêmeros. (Talvez a vida de muita gente seja assim, mas esse é um traço permanente na minha.)

Às vezes a separação é traumática, como não poderiam deixar de ser a minha volta ao Brasil depois de um ano incrível em San Diego ou a volta ao Rio após anos viajando e morando em BH e Curitiba. Nos dois casos, a mudança de lugar e de pessoas significou uma mudança total de caminho, de objetivos, uma transformação quase conceitual do que a vida deveria se tornar. Recomeçar e mudar de profissão é tão difícil quanto mudar de país. Quando você acha que entrou nos eixos, percebe que a cabeça de todos ao seu redor está de cabeça pra baixo, até que, ooops, era a sua perspectiva que andava meio estranha...

Agora talvez seja diferente. (Tá bom, sempre é diferente, não se entra no mesmo rio duas vezes blábláblá...) Se até agora o que mais me inquietava era não saber o futuro, não poder adivinhar uma decisão que não depende de mim, além de uma provável mudança de emprego, estado ou até profissão, o que hoje me incomodou foi, mais uma vez, o afastamento forçado e simultaneamente natural que, de tempos em tempos, tenho que fazer das pessoas.

Porque eu me apego muito e me desapego pouco. Para alguns pode ser difícil esse afastamento nos primeiros dias, mas para mim é difícil ad eternum. Por mais que não nos falemos, não esqueço da amiga do colégio, do primeiro time de vôlei, da amiga de Londrina, da que mudou pra Sampa, da que casou e se afastou, da que aparentemente se esqueceu de mim, da que ficou em Curitiba, nos Estados Unidos, do que mora na Eslovênia ou da que vive em Chicago, e de tantos outros...Todos são importantes. O passado, para mim, não passa. Ele fica guardado num universo paralelo aqui dentro, com um carinho muito grande por pessoas que, às vezes sem saber, transformaram minha vida nas pequenas coisas e me construíram como sou (seja isso bom ou ruim...) É piegas, mas é verdade. A amizade, como qualquer forma de amor, é piegas.

Então mais uma vez eu corro o risco de me separar de pessoas formidáveis que cruzaram meu caminho e nele permaneceram por algum tempo. Mais uma vez, eu vou tentar manter contato, pegar telefone, e-mail, endereço, dizer para essas pessoas o quanto elas são legais, agradáveis, engraçadas, únicas em seus defeitos e qualidades, e o quanto o conjunto da obra delas me conquistou sem que elas se esforçassem especificamente para isso.

Mais uma vez, vou ficar triste - talvez também deixe alguém triste por alguns momentos - e vou me afastar de pessoas especiais que provavelmente nunca entenderão o quanto são especiais para mim. Com o tempo, as coisas vão tomar uma distância que as distorcerá, e nós perderemos a dimensão da importância de amizades ou simples convivências que tivemos...Vai tudo ficando longínquo...Vão sumindo algumas afinidades, desvanecendo-se as gargalhadas, desbotando-se sorrisos, e acabam sobrando uma foto no álbum antigo da gaveta e um momento qualquer na memória, um episódio aparentemente insignificante que lembramos sem sabermos bem por quê...

Não me parece justo, mas sei que é assim.
São amigos, colegas e conhecidos; eles se vão e a lembrança fica...Cogumelos, diria o Pequeno Príncipe!

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