terça-feira, outubro 07, 2003

Annalena

Como alguém pode puxar um gatilho e matar outra pessoa? Eu não entendo. E entendo menos ainda quando a vítima é uma pessoa maravilhosa como Annalena Tonelli, uma mulher de quem quase ninguém ouviu falar.
A italiana de 60 anos era um desses seres humanos privilegiados pela coragem de abrir mão da própria vida para fazer com que outras vidas valham a pena. Ela tinha o tipo de coragem que eu mais admiro e que, na pior faceta da minha covardia, não tenho.
Annalena passou a vida ajudando soropositivos, tuberculosos e mulheres vítimas da mutilação genital, até ser assassinada, anteontem, no Hospital Geral de Borama, que dirigia. (O hospital fica no enclave da Somalilândia, cuja independência da Somália em 1991 não é reconhecida internacionalmente.) Dois seres irracionais e sem alma se aproximaram e um deles disparou dois tiros em sua cabeça.
Ela trabalhava com somalianos havia 33 anos, e era conhecida como “Madre Teresa da Somália”. Fundou uma escola para surdos em Borama e tinha planos de fundar uma para cegos. Já havia sido seqüestrada uma vez e sofrera várias ameaças de morte, mas nada disso a impedia de continuar seus trabalhos de ajuda humanitária. Uma pessoa assim não pode ser esquecida. Quantas Annalenas existem por aqui, no Brasil mesmo, no Rio, no bairro, na rua? Pouquíssimas. Essas, sim, são as pessoas que considero privilegiadas, as que "invejo", no bom sentido, porque são tudo o que eu poderia ser se tivesse coragem. Que Deus a tenha.

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