quarta-feira, setembro 03, 2003

Saravá, weblogs

Não sei o que acontece. Chego, sento e fico olhando a melissinha azul jogada ao lado da cama. Aí engulo um pão com queijo cottage, tomo um leite e só quero dormir. Resisto e malho como quem come um doce mesmo sem ter paladar, mas mato uns exercícios de braço (pensar que ganho músculos nos braços com facilidade é um ótimo álibi). Então sento ao computador, abro o Word e ao mesmo tempo a internet.
1, 2, 3 e já!, quem abrir primeiro ganha. O Word sempre vence, mas eu acabo roubando para a internet. E entro no messenger. E leio os blogs, que só fazem aumentar no meu “favoritos”. E checo minhas quatro contas de e-mail. E leio o No Mínimo, dou uma navegadinha cá e acolá, entro no NY Times crente que sou foda. E leio o poema del dia em español, crente que sou mais foda ainda e que meu incipiente espanhol vai evoluir alguma coisa. Mas o que leva mais tempo, principalmente depois que instalei o velox e não tenho que controlar a conta de telefone, são os benditos blogs.

É quase uma neurose obsessivo-compulsiva: assim como seco o peito de frango com um guardanapo para tirar o óleo e cato granulados do brigadeiro (alguém me dá licença de não gostar de granulado?), eu entro na rede e TENHO que ler blogs. E não são só esses aí que compartilho com meus oito leitores (estou evoluindo) nos links lá de baixo não. Dá para contar um aumento de 8% ao mês no número de sites que TENHO que acessar, nem que seja só para dar uma olhada no título do post que não lerei até o fim ou, claro, para deixar um comentário imbecil.

É que ultimamente meus critérios têm ficado muito latos. Não me importo tanto assim em escrever um palavrão ou outro (ontem eu mandei um “isso me deixa puta da vida”, algo impensável quando comecei essa terapia ocupacional do egocêntrico século XXI). Já começo frases com pronomes oblíquos (pecado dos mais sujos, que a Renata de outrora classificaria como digno de sete dias de jejum para penitência). Aos poucos, abandono o “para” e adoto o feioso “pra” - descolado, mas feioso. Não me inibo em escrever posts sem sentido algum, sem um mínimo mote, um gancho qualquer. Sento e escrevo qualquer coisa. Não é assim que são os blogs?

Blogueiros, vocês estão me levando para o mau caminho. Além de procrastinar, eu, após ler tanta coisa bacana (as duas últimas palavras são sintomas de quem acompanha as atrocidades do blog Inventando Dogmas) escrita assim, sem compromisso, começo a achar que eu nem preciso ficar tão preocupada em reler o que escrevi. Ah, quem manda e-mail no estilo bicho-preguiça “vc tb ta a fim?” ou faz :-) para dizer que está feliz não pode ficar grilado se encontrar um errinho ou outro neste blog inútil e despretensioso.

Mas, assim como ler tantos blogs joga meu próprio numa lassidão constante, esse torpor blóguico que me ataca e transforma meus textos em garranchos ineptos adianta alguma coisa, sim. Esse torpor mostra a mim, menina dantes morigerada, de cérebro nodoso e conspícuo orgulho, capaz de obter orgasmos mentais após verborréia desvairada como essa frase, que a lubricidade da vida está em vivê-la, e não em escrevê-la. Me avisa que minha obstinada pudicícia literária não serve pra bulhufas, até porque não tenho cacife suficiente para melindres puristas. Não passo de um engodo que cumpre uma rotina profilática de normalidade e tentativa de inserção num mundo ao qual não pertenço – o dos que escrevem porque essa é sua vida e é assim que se sustentam. Sou parte de uma turba de caprichosos que estão à margem porque não têm oportunidade, são azarados, não se movem ou simplesmente são ruins mesmo. E cada dia eu me encaixo numa das hipóteses.

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