terça-feira, julho 08, 2003

O borogodó do Joaquim

Confesso que não sentirei falta da coluna diária da Hildegard no Globo. Sempre ignorei os escritos daquela senhora, e acho que o mesmo não acontecerá com o novo colunista, Joaquim Ferreira dos Santos. Ele é - como lembrou um amiguinho do Clube do Mickey da Rua Irineu Marinho - ligeiramente metido a malandro carioca, mas tem tiradas ótimas. Suas frases, que vão do genial ao boçal, sempre me fazem abrir um sorriso.

Depois de saber do farewell da Sra. Angel, li a coluna semanal do Sr. dos Santos. E, durante o solilóquio sobre a localização do borogodó das mulheres do século XXI, aprendi que o mundo começa no umbigo da Gisele Bündchen, o "ó do borogodó redivivo, a vingança cheinha".

Em meio a incansáveis elogios à imperatriz da nova história do formato feminino, Joaquim disse ter escrito certa vez que "a estagiária de jornalismo com seu umbigo de fora era a versão 2000 da estagiária de calcanhar sujo de que falava Nelson Rodrigues". Olhei para meu calcanhar: limpo. Ufa. Olhei para meu umbigo: coberto. Quer dizer, mais ou menos. Era só me espreguiçar e....Mas peraí, Joaquim: meu pobre umbigo não é como o da Gisele, redemoinho guardião da modernidade sensual. Nem é sublinhado por um "piercing fofo", como você chamou aqueles das duas últimas gerações Brunet. Não deve estar no meu umbigo o tal borogodó de que tanto fala.

Percebi, então, que o nobre Joaquim havia-me lançado a seguinte questão: onde está o meu borogodó?
Passei alguns minutos com dedicação exclusiva e exaustiva a uma sincera egotrip. Talvez um dia eu entre num consultório e diga: "Injete-me silicone até me confundirem com a Dolly Parton". Mas acho pouco provável. Vou me virando assim mesmo, com meu cleavage ergonomicamente correto. Sei também que não sou o sonho de consumo de nenhum podófilo: calço 39/40 - não necessariamente nessa ordem. E, tenho certeza, nenhum louco me pagaria R$ 90 mil para desfilar com o biquíni da sua grife. Passo essa para a Gisele. Apesar dos pesares e dos constantes surtos de auto-comiseração, no geral estou feliz com minha plástica e não faço idéia de qual seria meu trunfo - ou meu borogodó, como preferir o nosso colunista.

Mas quando você pergunta, Joaquim, se ainda nascem mulheres de "coxas roliças e ancas fartas", parece que não anda pelas ruas e não nota a alma encantadora e expansiva das mulheres comuns, de pouco potencial de vídeo e passarela. Eu, por exemplo, estagiária de calcanhares limpos e umbigo recatado, nunca experimentei uma calça dessas de cintura baixa da Cavalera de que você fala. Acho que nem me caberiam.

Porém, como o senhor mesmo lembrou, o borogodó de uma não precisa estar exatamente no mesmo lugar do da outra. O umbiguinho da Gisele é modelo único, você diz. Concordo: chega a ser uma vergonha lingüística igualá-lo a todos os outros descendentes do latim umbilicu. É um furinho no ventre só pra caras assim do calibre do João Paulo Diniz, do Santoro ou daquele sabugo mofado do Leonardo DiCarpio. É modelo único como uma Ferrari feita sob medida ou um vestido da Daslu. Desenhado por algum deus bêbado de néctar e ambrosia, enquanto o deus das mulheres comuns devia estar a pão e água.

Só que você fala tanto do borogodó da Gisele, da Luana, da Cicarelli e da Cynthia, mas chega no final e manda que nós, mortais, não entremos nessa "tortura invejosa de academias de ginástica e dietas para ter o mesmo modismo que vai na barriga das outras". Você nos manda inventar, hoje, o nosso próprio borogodó, e apostar nele todas as nossas fichas.
Observando seu simpático 3X4, me pergunto: qual seria o seu borogodó?

Sei não, mas amanhã às nove estou na tortura. E esperarei ansiosamente pelas filosóficas questões que me proporá sua próxima coluna.

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