Matrix Recarregada
E então eu resolvi assistir Matrix Reloaded. Sozinha. Esperava uma bomba atômica, mas até que me surpreendi.
Não sou do tipo que gosta da sensação de segurar um joystick enquanto vê um filme, e não agüentava mais o Keanu Reeves dando porrada num bando de clones. Mas pelo menos essas cenas cumpriram um propósito admirável: manter o rapaz de boca fechada. Ele é excelente fazendo tipo caladão-estiloso. E quase sempre péssimo quando obrigado a abrir demais a boca. Quem viu filmes como Doce Novembro há de concordar.
Neo é um misto de Super-homem fashion com Bruce Lee e Jaspion fantasiado de messias. Ainda bem que existem Laurence Fishburne e a Mulher-gato versão atitude Carrie-Anne Moss (até o nome dela é cool). Além de, é claro, outras ajudinhas como aqueles gêmeos whitedreadevil e a maravilhosa Persephone (Monica Belluci). Ela inveja a Trinity e todas as mulheres do mundo a invejam. Se eu fosse poderosa como ela nunca iria atrás daquele cara-de-placebo do Neo/Keanu.
No início ainda duvidei se meus R$ 6 e a criança chutando a minha cadeira valeriam a pena, mas ainda bem que o filme melhora gradativamente, e lá pro final quase dá para esquecer aquele baile funk meio Indiana Jones cheio de sósias do Carlinhos Brown se sacudindo e gatas molhadas neopaleolíticas balançando os peitos. O horror, o horror.
O segundo Matrix, bem menos magnífico que o primeiro, possibilita algumas analogias sobre controle e escolhas – um prato cheio para aprazíveis reflexões e delírios. A metáfora do homem controlado pela máquina e “vivendo” pela programação digital não se esgota aí – é possível para traçar outras relações. Por exemplo: somos controlados por nossos desejos conduzidos pela publicidade. Guiados por um controle difuso, mas existente, compramos as coisas pelo significado que atribuímos a elas, e não pelas coisas-em-si. Não sabemos de onde vem o valor, nem o que é, nem ao certo para que serve, senão para dar sentido à ordem compulsiva de comprar, produzir para comprar, viver para comprar o que nos dê sensações específicas. Compramos percepções, e não produtos.
Já que estava viajando mais ou menos nessa linha, dei uma de nerd e fiquei até o fim dos créditos só para ver o trailer de Matrix Revolutions, que, nem todos sabem, passa uns 10, 15 minutos depois que o filme acaba. Liberei tanto minha porção nerd que saí do cinema querendo dirigir como a Carrie-Anne e me sentindo feliz com meus cabelos de Trinity do Paraguai.
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