terça-feira, junho 03, 2003

Eu e meu jubileu

Eu adiei, adiei, mas finalmente chegou a hora de tocar no assunto.
Na verdade já passou da hora: tenho 25 anos e um dia. Na última semana, vieram à minha cabeça fragmentos de idéias, lampejos sobre o que escrever no meu aniversário. Um presente para mim mesma seria produzir uma bem-humorada, mas séria análise sobre meu presunçoso umbigo. Seria um presente grátis e prazeroso – como uma relação carnal: eu, o papel, a caneta. Frenético mènage a trois.
Mas acabei colocando obstáculos no caminho. Nenhuma idéia era boa o bastante para ser desenvolvida, trabalhos da faculdade urgiam, amigos esperavam respostas eletrônicas, Bukowski me convidava a conhecer a próxima mulher de Henry Chinaski, a cama era mais apetitosa que o caderno azul. Tudo poderia me levar a adiar o autopresente, mas nada impediria a passagem das horas até o dia 1o de junho.

Chego aos 25 sem nenhuma pompa, mas cheia de circunstâncias. Nunca imaginei fazer 25 sem a tal “independência financeira”. Quando era pequena, achava que, nessa altura, já estaria casada, com um emprego ótimo, rebolando de salto alto pela Rua das Laranjeiras. Hoje, olho no espelho e o que vejo? Espinhas.
(Tudo bem: tenho saúde; faço uma faculdade e meia, um estágio maneiro, tenho família, namorado, amigos. Mas ninguém se projeta sem essas coisas aos 25, imagino. Estar viva já é uma grande vitória, anyway.)

Quando fiz 15 anos, dei um almoço para a família e uns cinco amigos. Não quis ir à Disney: pedi uma linha telefônica com aparelho (tá, eu era meio anômala, achava idiota gastar dinheiro com bichos de pelúcia e casacos do Mickey. Além disso, há 10 anos telefone era um presentão). Mais tarde aluguei e por uns bons anos tive uma mesadinha para comprar meus troços e guardar uns trocados na poupança.
Já aos 18, nem lembro o que ganhei, acho que estava treinando em Belo Horizonte e não sei se comemorei. Quando fiz 21, dei uma festa em Curitiba que também serviu como despedida do vôlei, da cidade e de amigos. Foi inesquecível como só os momentos tristes conseguem ser.

Lembrei essas datas por que são simbólicas, aqueles ritos de passagem: debutante/já posso dirigir e mostrar a identidade na night/sou dona do meu nariz e adulta.
Mas qual é a diferença? Por que me deprimir ou alegrar aos 25, e não aos 24 ou 26? A gente tem essa mania de dezenas, múltiplos de 5, números redondos. É um quarto de século, fica aquela sensação de jubileu, de boda. Preferia ter parado no dia 31 de maio ou ter nascido num ano bissexto. Mas hoje fui a mesma abobada de ontem e sou tão madura - ou imatura - quanto aos 20. Não acordei com mais rugas, celulites ou flacidez. Segunda chegou, agora já é terça e daqui a pouco terei 26. E daí? Minha última decisão importante antes de escrever aqui foi tascar uma garrafa de Romanèe Conti na cabeça tosada. Fiquei com cara de sabichona, uma Carrie-Ann Moss bem piorada e com olhos comuns vivendo numa Matrix escangalhada onde as pessoas virtualmente envelhecem.
Ao escrever meu texto dos 50, aposto que minha última grande decisão terá sido algo tipo retocar a tatuagem, trocar a dança do ventre por hidroginástica ou comemorar no Baixo Gávea como num dia qualquer. The show must go on.

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