Breve reflexão sobre o amor
O amor é mais uma doação e ato de humildade e desprendimento do que desejo desenfreado e posse. Mas não é isso o que esperam da gente, não é assim que aprendemos.
Queremos o ser amado para nós, mas - dizem - amar é deixar livre o objeto de seu amor. "O amor romântico só é um estado aflitivo porque o alicerce da paixão no Ocidente é o apego. Para o budismo, o apego só vale se afeto e compaixão estão juntos."
Muito bonita a frase do Dalai Lama. Mas e aí? Como dissociar o afeto da posse?
A lógica do desejo, penso eu, é a do querer-possuir, que se põe no caminho do amor, às vezes prejudicando-o por torná-lo egoísta, meramente um mecanismo de auto-satisfação - como tudo o mais no Ocidente, também o amor gira em torno do "eu".
Não existe o amor perfeito, puro, pleno. Devem existir os mais satisfatórios, mas simplificados, mais fáceis. Mas nenhum amor é "melhor" que o outro, sejam os protagonistas felizes para sempre ou não...
Estou lendo um livro chamado "Fragmentos de um discurso amoroso", de Roland Barthes (por isso essa reflexão melancólica sobre o amor). Recomendo fortemente. Eis um trecho muito bom - que não responde nada, mas pode dar no que pensar.
“Como termina um amor? – O quê? Termina? Em suma, ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou o poeta (recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica.”
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